Não estou a dizer que a exaustão é exclusividade das casas com crianças neurodivergentes ou com deficiência. Sabemos que a maternidade é difícil e exigente para todas. Mas a maternidade atípica é inegavelmente mais laboriosa e diligente.
As mães atípicas estão exaustas porque o estado nem sempre é capaz de lhes proporcionar segurança e atendimento adequado, porque muitos profissionais não são empáticos com as suas dores e receios, porque a escola não promove a inclusão de forma verdadeira e, diante dos desafios, não buscam soluções, mas sim transferem o “problema” de volta para a família (isso quando aceitam a criança ali). Muitas destas mães estão exaustas porque o pai não assume a sua parte da responsabilidade, dizendo que não tem tempo para fazer, estudar, entender - sem falar daqueles que simplesmente vão embora, porque lidar com tudo isso é demasiado para eles.
Mas não fica por aqui! A exaustão destas mães também deriva da família que recusa aceitar a realidade e de outras mães (típicas, na sua maioria) que optam por fingir que não é um problema delas, escolhendo excluir e segregar (afinal, incluir dá muito trabalho, não é?). A exaustão também surge das pessoas que lançam olhares de reprovação na rua, julgando tratar-se de crianças mal-educadas, que rotulam, ou das que desvalorizam a situação, dizendo que hoje em dia está na moda ter algum "problema". A exaustão das mães atípicas existe porque o resto da sociedade está convencido de que este problema não lhe diz respeito.
As mães atípicas estão exaustas porque, todos os dias, precisam de abdicar de ser mulher, filha, esposa, por vezes profissionais e até seres humanos, para vestir a capa de supermãe atípica, carregando estereótipos, travando batalhas, lutando bravamente e educando o mundo para que este se torne um lugar mais preparado para acolher os seus filhos. Elas são o Estado, a escola, os especialistas, o pai e a comunidade, tudo ao mesmo tempo.
Sei que, ao observarmos uma mãe atípica, podemos ter a impressão de que são fortes e guerreiras. E, de facto, são, mas não por escolha, e sim porque têm que ser. Não há espaço para demonstrarem as suas vulnerabilidades e medos. Não há tempo para pausas e descansos. Mas, no fundo, a mãe atípica é, antes de tudo, apenas uma mãe. Que erra e acerta, que confia e teme, que se questiona sobre as suas escolhas de vida, que anseia apenas para que dia chegue ao fim, que celebra todas as conquistas, que agradece e que se cansa.
As mães atípicas estão exaustas, e não é por causa dos seus filhos, mas sim por causa de todos nós!
Para todas as mães atípicas: o vosso caminho é único e muitas vezes repleto de desafios. Estar acompanhada pode tornar a jornada mais leve. Permitam-se ser acolhidas, peçam ajuda e rodeiem-se de pessoas que se preocupam convosco. Cuidar de si não é um luxo, mas uma necessidade essencial. Ao cuidarem de si mesmas, estão também a cuidar daqueles que amam. E lembrem-se, nós estamos aqui para vos apoiar — não precisam de enfrentar tudo sozinhas.
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Gabriela Sakalauskas é Orientadora Parental, certificada em Parentalidade e Educação Positivas, Orientação e Aconselhamento Parental e Luto Infantil, pela Escola da Parentalidade e Educação Positivas, em Portugal, além de Professora, com Mestrado e Doutoramento em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP). É estudiosa das perturbações do desenvolvimento infantil, tendo como foco principal a Perturbação do Processamento Sensorial (PPS), Perturbação do Espectro do Autismo (PEA), Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) e sobredotação. Gabriela atua no acompanhamento individualizado de pais, mediando rodas de conversa, grupos de estudo, dinâmicas de grupo e ministrando palestras e workshops, sempre tendo como base as evidências científicas e a neurociência.
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